segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Geração celular

Geração celular

Mal podemos imaginar a vida dos adolescentes sem os telefones móveis: multifuncionais, eles servem como gravadores de música, central de comunicação, símbolo de status – cientistas estudam a relação dos jovens com esses aparelhos para compreender o comportamento de grupos e desvendar interesses

junho de 2009
Annete Schäfer
© RADU RAZVAN/ SHUTTERSTOCK
Nos dias de hoje, encontrar um adolescente que não tenha um celular é tão improvável quanto achar um menino de 13 anos que seja fã de ópera ou uma menina de 15 que não se preocupe com a aparência. Nenhum grupo incorporou tão rápida e amplamente a tecnologia à sua rotina quanto os jovens de 12 a 19 anos. No Brasil, em janeiro de 2009, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) contabilizou 154,6 milhões de assinantes de telefonia móvel e, embora a agência e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não tenham informações sobre a faixa etária dos proprietários dos aparelhos, é possível perceber o interesse dos adolescentes por celulares.

Mas qual o efeito causado pelo uso constante desses aparelhos nos relacionamentos e no comportamento? Nos últimos anos, cientistas alemães estudaram essa questão minuciosamente e por meio de entrevistas com adolescentes e seus pais – observando atitudes dos estudantes na escola, linguagem e conteúdo de mensagens enviadas e recebidas – foi possível mapear o “comportamento telefônico” dos grupos. Os pesquisadores constataram que os celulares mudaram a vida dos adolescentes sob vários aspectos – muitos deles para melhor. Um exemplo disso foi na organização do dia. Assim como para os adultos, o celular ajuda os adolescentes a manter o controle da sua vida: é possível informar os pais de que estão saindo da aula, avisar sobre seus planos para a tarde, marcar atividades escolares e lúdicas – tudo simultaneamente. Hoje, em vez de agendar encontros com os amigos com antecedência, como se fazia há alguns anos, os jovens planejam suas atividades quando já estão a caminho delas e em um curto período de tempo são capazes de preparar uma festa.

Símbolo de status, a escolha do aparelho é vista por esses rapazes e garotas como expressão da própria personalidade. Modelos, cores e recursos são tema de conversa e, em alguns meios, podem indicar o grau de popularidade de seus proprietários. Alguns jovens usam o celular como uma espécie de “gerenciador de relacionamentos”: ele serve como centro de controle de uma rede social, principalmente quando se trata de pessoas da mesma idade. E possuir um aparelho próprio pode ser um pressuposto básico para fazer parte de um grupo; quem não é “encontrável” acaba excluído da comunicação de algumas turmas.
BLUEORANGE STUDIO/SHUTTERSTOCK
A POSSIBILIDADE DE marcar encontros a qualquer momento ajuda a controlar sentimentos de insegurança e solidão
Em um estudo feito em 2005, no Japão, foram entrevistados aproximadamente 600 estudantes – sendo que apenas metade deles tinha celular. Os resultados mostraram que proprietários de telefones tendiam a escolher seus amigos entre os que também possuíam o aparelho. Eram os mais afeitos a novidades tecnológicas e julgavam ser importante para a vida profissional e pessoal ser encontrados a qualquer momento. Apesar de apenas 5% dos entrevistados terem admitido abertamente que se sentiam socialmente excluídos devido à falta da tecnologia, quase 70% expressaram o desejo de ter um aparelho e um em cada três acreditava que não conseguiria ficar sem celular depois que tivesse o primeiro.

A maioria dos jovens que usam celulares concorda que é importante seguir algumas regras, que entre pessoas de outras faixas etárias poderiam ser facilmente contestadas. Por exemplo, julgam grosseiro não enviar uma resposta rápida para um recado deixado na caixa postal ou um SMS (short message service, em inglês): um “atraso” de 20 a 40 minutos ainda é aceitável – mais que isso costuma ser tomado como falta de educação. Mais: o celular pode (e deve) ser utilizado a toda hora e em qualquer lugar. Muitas vezes, no caminho da escola para casa, eles ligam para os amigos com quem acabaram de passar a manhã. Para muitos adultos é difícil entender esse desejo excessivo de comunicação. O que pode haver de tão importante para ser dito com tanta urgência?

A professora de psicologia Nicola Döring, da Universidade Técnica de Ilmenau, na Alemanha, analisou o conteúdo de mil mensagens instantâneas. Os resultados mostram que os jovens não usam o celular apenas para a troca de informações objetivas, mas para participar da rotina do outro, expressar proximidade, afeto e dar vazão aos sentimentos. Segundo estudo norueguês de 2005, feito com aproximadamente 12 mil jovens, com idade entre 13 e 19 anos, a troca de carinhos virtuais é considerada por eles como essencial para seus relacionamentos e parece funcionar como uma espécie de “reanimador”: os resultados mostraram que, quanto mais um adolescente telefonava ou mais mensagens escrevia, menor a possibilidade de se sentir solitário. Pesquisadores consideram, porém, a possibilidade de que adolescentes que de antemão já estejam em um bom estado de ânimo usem mais o celular. Porém, a argumentação inversa parece, no mínimo, igualmente plausível; a perspectiva de encontrar os amigos a qualquer momento, em qualquer lugar, ajuda a controlar a insegurança e a solidão.
Por mais importante que o celular se tenha tornado na vida da nova geração, não existe nenhum indício de que a comunicação por telefone substitua os encontros pessoais. Os programas com amigos são tão importantes hoje quanto antigamente, porém, além de se encontrar, eles permanecem em intenso contato eletrônico – e isso vale tanto para os amigos quanto para os casais. Na pesquisa de Döring expressões virtuais como “GDV” (gosto de você) e variantes “GMDV” (gosto muito de você) estão em primeiro lugar na lista das abreviações preferidas. A comunicação por escrito, para alguns, pode facilitar a demonstração de carinho e desejo. Na pesquisa britânica, feita pela internet, aqueles que se descreviam como socialmente tímidos ou solitários declararam que era mais fácil se expressar por mensagens curtas.

O advento do celular também mudou relacionamentos familiares e despertou controvérsias. Por um lado, existem questões bem práticas a ser relevadas, como o valor da conta no final do mês e a sensação que os adultos têm de não entender muito bem a necessidade dos filhos de usar tanto esses aparelhos. Por outro, o celular interfere na estrutura de poder entre pais e filhos. Na puberdade, o desejo parental de controle e a necessidade de liberdade dos adolescentes entram inevitavelmente em conflito. Isso acontece em todas as gerações – o celular, porém, modificou a forma como esses impasses são resolvidos. Assim, o limite entre estar em casa e estar fora torna-se confuso. Um jovem com celular próprio pode entrar em contato com seus amigos a qualquer momento e em qualquer lugar sem a interferência dos pais. E estes, por sua vez, podem participar mais intensamente da vida de seus filhos.

Com isso, o telefone móvel pode trazer vantagens para a relação familiar: para os jovens a independência aumenta, em comparação com as gerações anteriores. Em um estudo desenvolvido na Bélgica, por exemplo, os estudiosos perguntaram a aproximadamente 2.550 jovens – metade com 13 e a outra com 16 anos – com que frequência eram despertados de madrugada por mensagens SMS. Entre os mais novos, quase 14% declarou que isso acontecia de uma a sete vezes por semana. Entre os mais velhos esse número chegou a 23%. Os pais podem não ficar muito entusiasmados com as atividades noturnas de seus filhos, mas a maioria gosta do fato de ter um número em que pode encontrá-los. Para eles, o celular oferece a possibilidade – e, em alguns casos, a ilusão – de exercer controle a distância sobre seus filhos.

A possibilidade de cuidados a distância pode fazer com que os pais concedam maior liberdade aos filhos, como demonstrou um estudo britânico. O sociólogo Stephen Williams, da Universidade de Glamorgan, no País de Gales, perguntou para 25 adolescentes, com idade entre 15 e 16 anos, e a seus pais, sobre o papel do telefone móvel nas negociações sobre o direito de sair de casa para compromissos sociais. Especializado no estudo de famílias, ele descobriu que os adultos mostram-se dispostos a deixar os filhos saírem por mais tempo e irem mais longe, desde que liguem regularmente e atendam sempre ao chamado dos pais. O acordo parece útil para os dois lados: garante maior segurança aos pais e, aos adolescentes, mais liberdade. Porém, existe um problema: alguns pais se desesperam se por algum motivo não conseguem encontrar seus filhos. E há adolescentes que ficam envergonhados por receberem telefonemas dos pais na presença dos amigos.
Os efeitos ambivalentes do celular também foram revelados em um estudo feito em 2003, pelo sociólogo Michael Feldhaus, da Universidade de Bremen, Alemanha. Ele entrevistou 30 famílias – pais e adolescentes separadamente – sobre suas experiências com a comunicação móvel. De maneira geral, as duas gerações avaliavam os efeitos do telefone sobre as relações familiares como positivos. Para todos os membros da família o aparelho é visto como mecanismo de segurança, inclusive emocional. Tanto filhos quanto pais salientaram o efeito tranqüilizante de telefonemas regulares durante uma ausência prolongada. Para os adolescentes, porém, o efeito emocional positivo inverte-se quando os pais utilizam o celular como meio de controle excessivo. Para escapar do que chamam de “coleira eletrônica” terminam desligando o aparelho, o que causa inevitáveis problemas domésticos.

“Os adolescentes estão presos no dilema da disponibilidade; o desejo de pertencer a um grupo e ter independência leva ao mesmo tempo a um maior controle por parte dos pais”, diz Feldhaus. Mas, mesmo para os responsáveis, essa disponibilidade constante pode tornar-se uma armadilha. Há jovens que ligam para os pais por qualquer bobagem – um comentário desagradável da melhor amiga ou o ônibus perdido já podem ser suficientes para buscar apoio. Quando usado assim, o celular pode servir como uma espécie de “cordão umbilical virtual” que retarda a independência. Feldhaus também observou esse fenômeno em suas pesquisas: “Adolescentes que frequentemente reagem com impaciência e de forma emotiva, em geral têm a necessidade de expressar imediatamente seus sentimentos e isso faz com que, em alguns casos, criem uma espécie de linha vermelha com os pais, e que principalmente as mães corram o risco de serem controladas pelos filhos”.

O telefone móvel ainda pode ter outras graves consequências para os jovens. Como ocorre com toda nova tecnologia, existe o risco de abuso. Alguns estudos isolados indicam que jovens podem desenvolver dependência do celular. Em uma pesquisa americana feita em 2005, foi pedido a 102 universitários que passassem dois dias inteiros sem usar o aparelho. Apenas 82 concordaram e somente 12 conseguiram chegar ao fim da experiência. Já um estudo da Coreia do Sul, coordenado por Jee Hyun Ha, em 2006, mostrou que principalmente alunos que passam por momentos difíceis e se sentem emocionalmente abalados tendem a usar demais o celular. Em um grupo de 575 voluntários – a maioria meninos – um terço cometia excessos: esses adolescentes usavam o telefone mais de 90 vezes por dia, em média uma vez a cada dez minutos, enquanto estavam acordados. Eles checavam constantemente se tinham novas mensagens e reagiam com irritação quando não obtinham respostas imediatas. Ao mesmo tempo, os usuários assíduos tinham resultados piores do que os moderados em testes que avaliavam depressão, ansiedade e baixa auto-estima.

CONDENADA POR HAPPY SLAPPING

No ano passado, a justiça britânica condenou uma adolescente que confessou ter filmado com seu telefone celular o espancamento que resultou na morte de um homem, em setembro de 2007. Ela foi acusada de auxiliar e ser cúmplice no homicídio de Gavin Waterhouse, de 29 anos, que morreu por causa de ferimentos internos causados pelo espancamento. A garota, de 15 anos, foi enviada para um centro de segurança e irá continuar sob custódia da justiça até a divulgação da sentença.

“Os jovens tentam controlar a ansiedade ao entrar em contato constante com os outros”, afirma o pesquisador coreano Jee Hyun Ha. Alguns, porém, acham divertido atacar colegas de classe ou mesmo adultos, filmar os ataques com o celular e enviar os filmes para outras pessoas. Esse fenômeno, identificado inicialmente na Inglaterra pelo termo happy slapping (surra divertida), já se espalhou por outros países. Segundo o estudo recente JIM-Jugend, Information, Multimedia, realizado na Alemanha, um em cada três usuários de celular já presenciou alguma vez um ataque sendo filmado pelo equipamento. No entanto, ainda não está claro se as brigas registradas eram reais ou encenadas.
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ADULTOS, MAS SEM LIMITES

Alguns adultos se tornam dependentes desses pequenos aparelhos e por causa deles chegam a ficar em situações constrangedoras. Em abril, o primeiro- ministro da Itália, o polêmico Silvio Berlusconi, conseguiu atrasar o início da reunião da cúpula da aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Estrasburgo, na França, por falar ao telefone celular. A chanceler alemã, Angela Merkel, uma das anfitriãs do evento, esperou por ele vários minutos no tapete vermelho que conduzia à entrada do prédio. Enquanto aguardava, foi recebendo outros líderes e acabou desistindo dele, dando início à reunião sem o italiano. Outro caso polêmico é o da socialite Paris Hilton, que há poucas semanas teve seu celular roubado na Austrália e, além de perder toda a sua agenda telefônica com contatos de celebridades, teve suas fotos íntimas, tiradas com o aparelho, divulgadas na internet.

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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Por que os cristãos devem estudar Sociologia

Lionel Matthews

É por meio dos relacionamentos, em especial das interações em grupo, que a realidade é mais bem compreendida e estruturada.
Alguns cristãos têm “dúvidas profundas acerca da Sociologia”. O temor é que os alunos que cursam Sociologia na faculdade possam ter sua convicção religiosa “minada ou até mesmo destruída”.1 No entanto, apesar do receio alegado, faculdades e universidades cristãs continuam oferecendo a Sociologia como disciplina ou curso. Em vista disso, parece relevante fazer as seguintes perguntas: Por que professores e alunos em faculdades cristãs ensinam e estudam Sociologia? Pode o estudo da Sociologia facilitar uma compreensão mais profunda da vida cristã? Pode servir de veículo para a construção da fé?
Para compreender a razão de a Sociologia ser oferecida como disciplina acadêmica em uma faculdade/universidade cristã, devemos primeiro entender o propósito mais amplo do empreendimento educacional. As instituições educacionais visam a expor os estudantes a uma variedade de experiências, com o propósito final de prepará-los para a vida. O objetivo da educação oferecida, pelo menos do ponto de vista cristão, é dotar os alunos com conhecimento, habilidades, disposições e perspectivas que lhes permitam viver significativa e plenamente neste mundo, preparando-se para o Céu. Assim, a escolha de um currículo em uma instituição cristã pressupõe análise cautelosa, e compreensão da natureza humana e das necessidades individuais.
Embora as opiniões variem quanto aos atributos que são considerados fundamentais e aos que são importantes, mas não fundamentais2 para o desenvolvimento do indivíduo, os educadores, em geral, concordam que o ser humano é dotado de uma natureza holística. Apesar dos diversos pontos de vista propostos sobre este assunto3, algumas necessidades básicas foram determinadas. Para Maslow4, há necessidades menores e maiores. Ele identifica seis níveis de necessidades, em que a fisiológica é a menor e a autorrealização, a maior. As classificações de necessidades filosóficas, sociais, estéticas e de sobrevivência de Pratt5 são semelhantes à formulação de Ellen White6 sobre as características físicas, mentais, espirituais e sociais. Com base nessas categorizações, foram identificadas experiências consideradas essenciais ou necessárias para o desenvolvimento significativo do indivíduo.
As instituições educacionais, particularmente as escolas cristãs, têm como objetivo oferecer uma educação equilibrada. Assim, as principais áreas de conhecimento do currículo – como as ciências naturais, sociais, humanas e as artes – são organizadas de acordo com as necessidades apontadas. O objetivo é facilitar ao máximo o desenvolvimento individual dos alunos da forma mais adequada, tendo em vista essas necessidades. Como Ellen White escreveu, o processo de educação visa ao desenvolvimento integral das faculdades mentais, físicas, espirituais e morais dos alunos, tendo como objetivo final a restauração da imagem de Deus.7 Com relação a isso, de que forma a Sociologia deve ser considerada?

O enfoque sociológico

A Sociologia consiste no estudo do comportamento humano. Como um método de abordagem e um corpo de conhecimento, a Sociologia difere de outras ciências sociais à medida que analisa o comportamento humano tendo em vista a “coletividade”. O argumento básico apresentado é de que o comportamento humano é fortemente dependente de normas e valores sociais que resultam da interação com o grupo. Essa perspectiva baseada no grupo (interpessoal) diverge um pouco de algumas divisões das ciências sociais cuja ênfase está em uma dimensão mais individualista (intrapessoal) associada ao comportamento humano.
Os economistas, por exemplo, tendem a apontar a natureza utilitarista do comportamento humano, cuja a base são as escolhas racionais.8 Para eles, os seres humanos avaliam as escolhas e negociam respostas às diversas demandas de seu ambiente em função dos custos e benefícios. Em outras palavras, um indivíduo irá provavelmente agir de determinada maneira se considerar vantajoso. Por outro lado, caso não identifique vantagens em determinado comportamento, ele não agirá em função dele ou repetirá esse comportamento. No entanto, apesar de os sociólogos não negarem o papel da escolha racional como uma característica das atividades humanas, eles não acreditam que essa é a principal força motivadora das ações.
Para os sociólogos, boa parte das ações humanas não levam em conta os valores. Muitas pessoas, por exemplo, continuam a aderir a práticas sociais (por exemplo, o consumo de cigarros ou a prática de assédio) que claramente não são o melhor para elas. No entanto, elas são inclinadas a agir de determinada forma em grande parte por causa das pressões sociais.
Emile Durkheim9 argumenta que há um locus externo às atividades humanas. Ele afirma que os feitos sociais10 produzidos e sustentados pelo grupo são fenômenos que constituem a mola mestra da conduta humana. No desenvolvimento de suas ideias sobre as causas do comportamento humano, Durkheim critica as teorias da Psicologia e da sociobiologia de sua época. Enquanto a Psicologia propõe que o comportamento humano é definido por fatores como a vontade e outras características da mente, a sociobiologia sugere que ele é definido por princípios biológicos, tais como predisposições genéticas e níveis hormonais. Contrariando essas duas posições, Durkheim argumenta que a maneira como as pessoas se relacionam com o mundo em torno delas é socialmente condicionada.
Por exemplo, Durkheim observa que o modo como as pessoas cumprem suas funções em seus postos de trabalho e em outros relacionamentos pessoais foi condicionado por expectativas sociais e práticas estabelecidas socialmente. Em outras palavras, a maneira como as pessoas se relacionam com irmãos, mãe ou chefes é, em grande parte, determinada pelas normas da sociedade em que vivem. De acordo com esta lógica durkheimiana, os sociólogos reconhecem: há uma realidade socialmente criada que fornece o impulso para a ação e a interação humana.
No entanto, essa abordagem de grupo com foco no comportamento humano parece ignorar a visão bíblica de que cada ser humano é responsável por suas ações (2 Coríntios 5:10). Embora isso seja verdade, em certa medida, meu ponto de vista é de que a caracterização da perspectiva sociológica como antibíblica não se sustenta diante de uma análise mais aprofundada. Na verdade, o foco no grupo, como maneira de os sociólogos compreenderem o comportamento humano e social é, em grande parte, defensável dentro da visão bíblica. Essa afirmação, analisada neste artigo, é uma das principais razões pela qual os cristãos devem estudar Sociologia. Mas há pelo menos duas outras razões para os cristãos compreenderem a condição humana a partir da perspectiva sociológica.

Justificativa para o estudo da Sociologia

A Sociologia é uma ferramenta útil para os cristãos porque (1) fornece importante oportunidade para o indivíduo compreender a si mesmo e aos demais e para (2) alcançar um entendimento sobre o mundo social. Evidentemente, neste artigo, a concepção sociológica sobre a condição humana não é considerada a única ou a melhor explicação disponível. Os seres humanos são demasiadamente complexos para serem reduzidos a um único processo disciplinar ou a uma concepção única.
A necessidade de os cristãos buscarem uma autêntica compreensão de si mesmos e dos outros deriva, em parte, daquilo que Deus diz: “Sede fecundos e multiplicai-vos” (Gênesis 1:28) e amem uns aos outros como a si mesmos (Mateus 19:19). Essa compreensão se torna ainda mais importante quando consideramos que os seres humanos foram feitos à imagem de Deus (Gênesis 1:27). Não é possível cumprir o plano de Deus com base em ideias vagas ou sentimentos ingênuos. Para atingir esse ideal, são necessários esforços exaustivos e sistemáticos. Pois seria extremamente difícil para o ser humano, criado à imagem de Deus, se reproduzir e, verdadeiramente, amar a si mesmo e ao próximo sem uma autêntica consciência de si mesmo e dos outros. A compreensão baseada no senso comum não é suficiente. Muitas vezes, essa compreensão não passa de um entendimento superficial ou de uma impressão incosistente. Para ter entendimento e direção, além de recorrer aos escritos inspirados, devemos buscar a sabedoria acumulada pelos seres humanos.
Muitas pessoas não refletem sobre seu comportamento. Aparentemente, são incapazes de perceber suas atitudes tendo em vista a complexidade da vida. Dominadas por um ethos individualista, a maioria das pessoas parece pensar sobre seu comportamento a partir de suas próprias qualidades pessoais, demonstrando uma falta de capacidade para entender o geral no particular. Não compreendem a si mesmas dentro das circunstâncias mais amplas da existência. Elas demonstram um grande desconhecimento sobre “estar-aí” em função de seu comportamento. No entanto, a importância do contexto em que estamos inseridos é claramente bíblica, pois para o salmista, Deus registra e documenta a vida das pessoas e diz: “Este nasceu ali” (Salmo 87:6). Ao considerar o local do nascimento de uma pessoa, a implicação é de que Deus confere importância à experiência de socialização para o comportamento de uma pessoa e formação de seu caráter.

A imaginação sociológica

C. Wright Mills, que se baseou na noção durkheimiana dos fatos sociais e a ampliou, deu-nos, talvez, a explicação mais perspicaz da abordagem sobre o “estar-aí”. Mills11 propõe que o conceito de “imaginação sociológica” é fundamental para a compreensão de que o comportamento dos seres humanos é guiado pelas exigências normativas de sua sociedade. Para ele, aquele que possui “imaginação sociológica” é capaz de perceber como a história e a biografia se conectam e interferem na vida das pessoas.
Assim, “a imaginação sociológica habilita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida íntima e pública de numerosos indivíduos” e “compreender a história e a biografia, bem como as relações entre ambas na sociedade”.12 Assim, Mills argumenta que qualquer investigação social realizada convenientemente vai demonstrar uma compreensão do comportamento humano em função da interligação entre história (amplas características estruturais dentro de uma sociedade) e biografia (circunstância pessoal e mais imediata da vida dos indivíduos).
São esses fatores históricos e biográficos do “estar-aí” que compõem as multicamadas circunstanciais da vida das pessoas e pelos quais os sociólogos procuram entender o comportamento social. Também é em função dessa perspectiva que os variados padrões de comportamento que os cristãos manifestam a partir de diferentes perspectivas culturais podem ser entendidos. Considere o exemplo dos homens cristãos adventistas dos Estados Unidos e de Camarões. Embora definitivamente esses dois grupos compartilhem da mesma convincente visão de mundo e sejam compelidos por ela de maneira significativa, eles diferem em alguns aspectos importantes. Os homens adventistas de Camarões falam francês, usam roupas muçulmanas para adorar e provavelmente se casarão com mulheres escolhidas por seus pais. Por outro lado, os homens adventistas que vivem nos Estados Unidos falam inglês, vestem paletó e gravata para os cultos e são mais propensos a se casar com mulheres de sua escolha pessoal. Apesar de suas crenças e valores comuns, esses dois grupos diferem na forma segundo qual vivem essas crenças e valores, em grande parte por causa das expectativas sociais de suas respectivas sociedades.
A capacidade de ver o comportamento das pessoas em termos das circunstâncias de sua vida tem um significado maior na prática do cristianismo. Perkins13 afirmou que o estudo da Sociologia leva a uma maior claridade analítica. Ele sugere que essa clareza, juntamente com a capacidade de comunicar ideias teóricas obtidas a partir do estudo da Sociologia, é de valor inestimável para a realização e o desenvolvimento do potencial das pessoas como seres criados à imagem de Deus. As percepções e clareza de pensamento obtidas são especialmente valiosas para uma pessoa autoconsciente, bem como consciente da existência do outro. Essas percepções contribuem para o desenvolvimento do amor por si próprio e pelos outros.
A perspectiva sociológica capacita as pessoas a amar os demais de forma significativa. Essa afirmação é enfatizada habilmente na obra de Michael Schwalbe.14 Este autor sugere que as percepções sociológicas concedem às pessoas uma “consciência sociológica”, o que lhes permite prestar atenção às dificuldades e escolhas dos outros. Ele afirma que “se observarmos como as circunstâncias alheias diferem das nossas, seremos mais propensos a mostrar compaixão às pessoas e lhes daremos o respeito que merecem, como seres humanos. Seremos menos propensos a condená-las injustamente”.15 Em outras palavras, ser sociologicamente consciente habilita o cristão a desenvolver a capacidade de reflexividade (ver Perkins). Um cristão reflexivo é aquele que é capaz de sair de uma situação social e do quadro de referência (do “estar-aí”), e “julgar” a si mesmo e aos outros com base em uma compreensão cuidadosa e objetiva dos fatos. Essa habilidade de ser reflexivo é indispensável para que uma pessoa seja capaz de seguir a regra de ouro, ou seja, tratar os outros como quer ser tratado (Mateus 7:12). É por isso que Leming, DeVries e Furnish argumentam que “o cristão sociologicamente consciente está mais bem habilitado para entender o Shalom, para implementar o amor e justiça no mundo”.16
Outra razão pela qual os cristãos devem dar atenção aos estudiosos da Sociologia reside no potencial da disciplina para criar uma consciência das formas em que o mundo social é concebido e construído. Para o cristão, essa consciência é especialmente importante para fundamentar seu discurso acadêmico sobre o mundo social. Na verdade, o discurso sobre a origem, natureza e mudança de padrões sociais não deve iludir os cristãos. Os cristãos são convidados a “avaliar qualquer novo ethos que molda a cultura na qual os crentes são chamados por Deus a viver”.17 “Destruímos os argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Deus” (2 Coríntios 10:5).
Isso implica que os cristãos devem estar preparados para se engajar em uma ofensiva contra as ideias que se opõem a Deus. Isso sugere uma “comunicação entre pessoas que compartilham diferentes experiências da realidade com o propósito de descobrir alguma verdade suprema”.18 Nesse processo de encontro, a tensão entre os diferentes pontos de vista dos destinatários dá origem a uma nova proposta, a síntese. Os princípios que norteiam o processo de garantir os melhores pontos de vista apresentados em cada uma das colocações sugeridas são mantidos e incluídos na nova posição, enquanto aqueles que não suportam o escrutínio do julgamento são descartados.
Em coerência com este espírito, é esperado que os cristãos, em seu esforço para “destruir” argumentos e levar cativo todo pensamento, avaliem cuidadosamente as conclusões de seus colegas não cristãos, a fim de reter o que for aproveitável. Isso exige que os cristãos exercitem bom senso e exibam civilidade ao debater ideias seculares. Isso irá garantir que os defensores dessas ideias não se sintam menosprezados ou irritados se seu posicionamento não for aceito, pois saberão que seus conceitos foram devidamente analisados e avaliados. O fato de o pesquisador não cristão ter sido tratado de maneira justa pode levá-lo a reagir de maneira favorável à argumentação apresentada pelo pesquisador cristão.
Para os cristãos efetivamente participarem do desafio de combater argumentos e levar as ideias cativas, tendo em vista a glória de Deus, em primeiro lugar, eles precisam entender os conceitos e argumentos pertinentes. Especialmente, devem compreender a base das proposições sugeridas nos argumentos a ser combatidos ou aceitos, e precisam ser capazes de apresentar proposições contrárias credíveis ou justificativas que resultem na formulação ou na adoção de um novo posicionamento, mais defensável. O objetivo de tal exercício, é claro, não é gerar teorias estéreis que levem a um interminável conflito, mas, como o apóstolo Paulo sugere em 2 Coríntios, facilitar a obediência a Deus.
Além disso, o desafio para os cristãos desconstruírem argumentos e levarem cativo todo pensamento, segundo Paulo, implica que os cristãos se tornem líderes do pensamento de sua sociedade. Essa posição se harmoniza com a comissão de Jesus aos Seus seguidores para que sejam a luz do mundo e o sal da terra (Mateus 5:13, 17). A afirmação de Jesus nesses versículos se aplica a todas as dimensões da condição humana – espiritual, social, intelectual e física. A implicação, portanto, é que seguidores de Cristo devem ser o meio através do qual essas dimensões em suas formas operacionais na sociedade sejam temperadas e preservadas (o efeito do sal) e iluminadas e explicadas (o efeito da luz). Dessa maneira, os cristãos podem demonstrar sua fidelidade em suas funções como a luz e o sal de sua sociedade, respectivamente. Fiéis a essas funções, os cristãos se tornarão não só agentes de estabilidade e ordem na sociedade, mas também geradores de significado. Com relação ao potencial gerador, os cristãos deverão liderar a criação de novos conhecimentos, proporcionando respostas às muitas perguntas intrigantes em áreas como a saúde, vida familiar e prática religiosa.
No entanto, os cristãos continuarão sendo desafiados ao tentarem realizar essas funções sem uma compreensão profunda e autêntica das teorias e modelos conceituais que abordam os padrões sociais de sua sociedade. Heddendorf declarou que “em uma época de instabilidade social em relação à complexidade da vida, o pensamento social cristão permanece em grande parte ingênuo e sem compreender essas complexidades”.19 É em grande parte por causa deste déficit que os cristãos de uma maneira geral têm negligenciado (e, em alguns casos, abandonado) a função de portadores de luz (no sentido de gerar) e contribuído com sua inércia diante da proliferação de ideias seculares antagônicas às reivindicações bíblicas. Quando a Sociologia capacita os cristãos com uma compreensão do mundo social, facilitando a execução de seus papéis como líderes do pensamento e portadores de luz, o seu estudo é certamente justificado.
Até agora, duas razões foram apresentadas sobre a necessidade de os cristãos se empenharem no estudo da Sociologia. A primeira razão trata da relevância da Sociologia para que o indivíduo tenha compreensão de si mesmo e dos outros, aumentando assim sua capacidade de amar os demais e servi-los. A segunda razão sugere que a Sociologia permite uma compreensão autêntica e profunda do mundo social. Dessa forma, esse estudo possibilita ao cristão levar cativo todo pensamento para a glória de Deus. Agora, uma terceira e última razão: a unidade de análise sociológica, o grupo, é um tema eminentemente bíblico.

Uma análise da unidade baseada na Bíblia

Uma das decisões importantes que os cientistas sociais devem tomar em seus esforços de pesquisa refere-se à unidade de análise. Este termo está relacionado à fonte a partir da qual o investigador pretende obter os dados para o seu estudo. As unidades de análise incluem os indivíduos, funções, tipos de personalidade, instituições, regiões e grupos, sem, porém, se limitar a essas divisões. Para Kaplan, as unidades de análise são o “ponto problemático” da tarefa de pesquisa. Ele descreve as unidades de análise como o “assunto final para a investigação”.20 Uma vez que a unidade de análise é escolhida, são feitas as decisões relativas à concepção e à metodologia de pesquisa. Apesar de não negar a validade de outras fontes de dados, os sociólogos têm considerado há muito tempo ser o grupo a unidade final de análise, e com boas razões.
Uma vez escolhidas, as unidades de análise são sujeitas a dois tipos de falácias: ecológicas e individualistas. A falácia individualista ocorre quando o pesquisador utiliza dados de um nível de análise e extrapola os resultados. Por exemplo, suponhamos que uma pesquisadora realizou um estudo para determinar a atitude de jovens adultos quanto ao aborto e descobriu que jovens adultos do sexo masculino nos municípios do sul dos Estados Unidos, onde o estudo foi feito, eram mais favoráveis ao “direito de escolha” do que “a favor da vida”. A unidade de análise nesse estudo é composta por jovens adultos. As conclusões devem, portanto, ser generalizadas para jovens adultos. No entanto, se o pesquisador concluiu, com base em suas descobertas, que os municípios do sul eram mais propensos a adotar políticas “a favor do direito de escolha” do que outros municípios, ele estaria cometendo a falácia individualista, tirando conclusões sobre as administrações municipais, com base em dados individuais. Um exemplo contrário também é possível: um pesquisador poderia ter cometido a falácia ecológica, ao levantar dados de administradores de municípios, e depois generalizar as descobertas aos jovens adultos. Ambas as falácias devem ser evitadas, pois levam à distorção dos fatos.
A unidade de análise sociológica preferida, o grupo, continua a ser uma base sólida sobre a qual conclusões prováveis sobre indivíduos e outros fenômenos podem ser compreensivelmente alcançadas. Este argumento baseia-se na lógica da teoria de sistemas,21que postula que o todo é mais do que a soma das suas partes, e que, enquanto as peças podem ser entendidas de um modo geral, o oposto não é verdade. A implicação aqui é que o indivíduo, enquanto limitado em seu efeito sobre o grupo, não pode escapar do impacto do grupo, em especial do grupo familiar. Na verdade, ele é profundamente influenciado por sua origem primária.
Portanto, a afirmação daqueles que argumentam que os grupos não têm existência real além dos indivíduos que os compõem ignora um importante aspecto, ao considerar a identidade do indivíduo fora do contexto do grupo. Durkheim insiste que o grupo não se limita a seus membros constituintes, mas consiste em algo novo e independente de seus membros individuais. Assim, ao contrário daqueles que argumentam de forma diferente, os grupos são reais e constituem um aspecto fundamental da realidade.

A visão bíblica do grupo

A posição sobre a natureza fundamental do grupo é um tema bíblico recorrente. Esta noção surge no início do relato bíblico. Quando Deus fez o primeiro ser humano, Ele declarou-o, juntamente com o restante de Suas obras criadas, “muito bom” (Gênesis 1:31). Logo depois, Ele disse que não era bom que o homem estivesse só (Gênesis 2:17) e concedeu a Adão uma companheira, Eva. Mas qual seria o significado de falar que o homem era bom, embora não fosse bom que ele estivesse sozinho? O ponto de destaque é que o ser humano como um produto da criação de Deus, devido ao seu potencial para expressão criativa, está em excelente condição. No entanto, os seres humanos não são objetos inanimados ou criaturas sem desejo. São seres dotados da capacidade de relacionamentos significativos. Sendo assim, eles estarão irremediavelmente sufocados e estagnados se não tiverem como suprir a necessidade de relacionamentos. Sob essa perspectiva, não é bom que os seres humanos vivam isolados, sem o benefício da interação com os outros.
Há muitos anos, o sociólogo Charles Horton Cooley sintetizou a essência desse pensamento quando observou que “um indivíduo isolado é uma abstração desconhecida para a experiência”.22 O que Cooley queria dizer era que para um indivíduo obter desenvolvimento e realização é impensável viver fora de um contexto de grupo. Os seres humanos não se dão bem fora de um grupo. De fato, alguns estudos têm apoiado a ideia de que a realização de nossa humanidade é difícil de alcançar fora do contexto de grupo.23

Um Deus em Três

A realidade do grupo deve ser apreciada não só devido a sua relevância para o desenvolvimento pessoal, mas também pela sua importância para compreensão da realidade divina. Apesar de seu claro elo monoteísta, o relato bíblico parece inabalável sobre a ideia de Deus como um grupo. Embora Deus tenha sido declarado ser um só Deus (Deuteronômio 6:4; 1 Timóteo 2:5), Ele também tem sido apresentado como uma pluralidade (Mateus 28:19; Efésios 4:5). Essas afirmações sobre a divindade, embora pareçam envolver uma contradição de termos, tornam-se mais claras dentro do contexto mais amplo das Escrituras.
Os cônjuges se tornam uma só carne no casamento (Gênesis 2:24, Mateus 19:05, Efésios 5:31), e Jesus orou para que seus seguidores fossem um (João 17:21). Paulo (1 Coríntios 12) apresenta a igreja com sua pluralidade de membros como um só corpo, e Mateus (capítulo 25) retrata os remidos de todos os tempos como uma noiva. Assim, a noção de unidade emergindo da coletividade parece claramente bíblica. No entanto, como evidenciado pela experiência de maridos e esposas e dos seguidores de Cristo, esse grupo baseado em unidade não se traduz na fusão dos seres ou personalidades. Nem maridos e esposas, nem cristãos individuais são moldados em uma única entidade que anula a individualidade.
O que a noção de Deus como sendo trino (grupo) parece sugerir é que os membros da Trindade tornam-se unidos em sua relação com o outro, com base em seu propósito comum, valores e interesses. Furnish24 sugeriu que uma união mística surge quando as pessoas interagem em um contexto de grupo. Isso se revela nos relacionamentos humanos e também ilustra a unicidade da divindade?
O ponto ressaltado pela Escritura retrata a “unidade” tendo função de “coletividade” cuja realidade é, em última análise, relacional. É dentro dos relacionamentos, e em particular dentro do grupo de relacionamento, que a realidade é mais bem compreendida e estruturada. Mas essa visão não se encaixa bem em culturas dominadas pela noção ocidental individualista da natureza humana, mais bem resumida pelo conceito lockeano de “individualismo ontológico”.25 Segundo esse conceito, o indivíduo é considerado mais importante que o grupo, e o grupo é visto como se surgisse do agrupamento dos indivíduos, cuja existência é independente do grupo.
No entanto, esse conceito não é o ideal. A cosmovisão cristã claramente assinala isso. O que parece inevitável, no entanto, é que Deus é um conjunto, e a humanidade é criada à imagem divina. Assim, os seres humanos são essencialmente sociais, feitos para Deus e para o outro.26O entendimento sociológico é que o grupo é a realidade primária, inclusive, nas Escrituras. Assim, parece razoável concluir que apenas por sua consistente unidade de análise – o grupo –, a Sociologia deve encontrar algum lugar de importância na pesquisa acadêmica cristã. Contudo, deve ser estudada sob a perspectiva cristã.
Lionel Matthews (Ph.D., Wayne State University) é professor associado de Sociologia na Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan, EUA. Este artigo é uma síntese do capítulo de abertura de seu livro Sociology: A Seventh-day Adventist Approach for Students and Teachers (Berrien Springs, Michigan: Universidade Andrews Press, 2006). Impresso com permissão do autor e do editor.

REFERÊNCIAS

  1. PERKINS, R. Looking bothways. Grand Rapids: Baker Book House, 1987. p.13.
  2. PRING, R. Personal and social education in the curriculum: concepts and content. London: Hodder and Stoughton, 1987.
  3. NOHRIA, N., LAWRENCE, P., WILSON, E. Driven: how human nature shapes our choices. São Francisco: Jossey-Bass, 2002; RYAN, R., DECI, E. Self-determination theory and the facilitation of intrinsic motivation, social development, and well being. In: American Psychologist 55 (2000) 1:68-78; THOMPSON, M., GRACE, C., COHEN, L. Best friends, worst enemies: understanding the social lives of children. Nova York: Ballantine Books, 2001.
  4. MASLOW, A.H. Motivation and personality. 2a. ed. Nova York: Harper, 1970.
  5. PRATT, D. Curriculum planning: a handbook for professionals. Fort Worth, Texas: Harcourt Brace College Publishers, 1994.
  6. WHITE, Ellen G. Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001 [CD-ROM].
  7. Ibid., 13.
  8. RAWLS, A. Can rational choice be a foundation for social theory? In: Theory and Society, 21 (1992) 2:219-241.
  9. DURKHEIM, E. The rules of sociological method. Chicago: The University of Chicago Press, 1964.
  10. Durkheim define fato social como “maneiras de agir, pensar e sentir, externas ao indivíduo e dotadas de um poder de coerção, pela razão de que elas o controlam.” Ibid., 3.
  11. MILLS, C.W. The sociological imagination. London: Oxford University Press, 1959.
  12. Ibid., 65-66.
  13. PERKINS, Looking Bothways.
  14. SCHWALBE, M. The sociologically examined life: pieces of the con-versation. Mountain View, Califórnia: Mayfield Publishing Company, 2001.
  15. Ibid., 5.
  16. LEMING, M.R., DEVRIES, R.G., FURNISH, B.F. (eds.) The sociological perspective: a value-com-mitted introduction. Grand Rapids, Michigan: Academie Books, 1989. p. 12.
  17. GRENZ, S.J. A primer on postmodernism. Grand Rapids: Wil-liam B. Eerdmans, 1996. p. 167.
  18. HEDDENDORF, R. Hidden threads: social thought for Christians. Dallas: Probe Books, 1990. p. 191.
  19. Ibid., 9.
  20. KAPLAN, A. The conduct of inquiry. Nova York: Harper and Row, 1968. p. 78.
  21. GOLDENBERG, I., GOLDENBERG, H. Family therapy: an overview. Pacific Grove, Califórnia: Brooks/Cole, 2003.
  22. COOLEY, C.H. Human nature and the social order. Nova York: Schocken, 1964 (trabalho original publicado em 1902). p. 36.
  23. DAVIS, K. “Extreme isolation” In: HENSLIN, J. M. (ed.). Down to earth sociology: introductory readings. 12. ed. Nova York: Free Press, 2003. p.133-142; RYMER, R. Genie. Nova York: Harper Perennial, 1994.
  24. FURNISH, B.F. “Are groups real?” In: LEMING, M.R., DEVRIES, R.G., FURNISH, B.F. (eds.) The sociological perspective: a value-com-mitted introduction. Grand Rapids, Michigan: Academie Books, 1989.
  25. Bellah, R.H. Habits of the heart: individualism and commitment in american life. Berkeley, Califórnia: Universidade da Califórnia, 1985. p. 143.
  26. SIRE, J.W. Discipleship of the mind: learning to love god in the ways we think. Downers Grove, Illinois:InterVarsity Press, 1990.

terça-feira, 21 de junho de 2016

LIVRO: COMO SE VESTEM OS SANTOS

Livro publicado pelo CENTRO DE EVANGELISMO UNIVERSAL. Curta nossa página no facebook. Este livro pode ser lido gratuitramente aqui, ou comprado no formato impresso ou e-book pelo clubedeautores ou amazon.com


Cover_front_perspective
Número de páginas: 156

Edição: 1(2016)

ISBN: 978-1534819092

Formato: A5 148x210

Coloração: Preto e branco

Acabamento: Brochura c/ orelha

Tipo de papel: Offset 75g




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sexta-feira, 15 de abril de 2016

TODOS OS TELEFONES DO PRESIDENTE LULA

Compre o livro TODOS OS TELEFONES DO PRESIDENTE LULA em várias livrarias virtuais como amazon.com, e clubedeautores.com.br no endereço abaixo:
https://clubedeautores.com.br/book/207470--TODOS_OS_TELEFONES_DO_PRESIDENTE_LULA#.VxGX-vkrLIU

          
  Este presente volume faz uma análise das ligações telefônicas que o juiz Sergio Moro retirou o sigilo do processo e permitiu que a sociedade brasileira tomasse conhecimento do complô que Lula, Dilma e a cúpula do Partido dos Trabalhadores tramavam contra o Brasil. Em seu plano de poder, o PT enriqueceu seus membros mais ilustres e arregimentava sua quadrilha na ralé da sociedade com seus exércitos paralelos como o MST, os ditos movimentos sociais, os sindicatos e grupos sanguessugas como a CUT (Central Única dos Trabalhadores).  As revelações das conversas telefônicas deixaram o Brasil estarrecido com as manobras ilegais que o PT tramava para livrar Lula das mãos pesadas da justiça federal, em especial, da REPÚBLICA DE CURITIBA, pois daquela capital brasileira, uma força conjunta da Policia Federal, do Ministério Público Federal e da Justiça Federal, desvendou-se o maior esquema de corrupção da história do Brasil e mesmo da história da humanidade. O volume de dinheiro desviado do erário público e da Petrobrás trata-se de uma soma astronômica que bandidos mancomunados transferiram para sustentar a máfia do PT


sexta-feira, 11 de março de 2016

LIVRO: O DIABO ESTÁ AO SEU LADO

O Escriba Valdemir publicou este livro e pode ser comprado impresso ou em e-book no endereço abaixo, além de dezenas de outras editoras e livrarias virtuais. Pode ser lido na íntegra logo a seguir.

https://www.clubedeautores.com.br/book/204955--O_Diabo_esta_ao_seu_lado?topic=desenvolvimento#.VuIzdfkrLIU
Cover_front_medium
Tive inúmeras experiências com os demônios, e a cada dia tenho novas experiências. Ninguém passa por este mundo sem sentir por algum momento uma perturbação em sua vida. Um vulto que passou por trás de você, uma voz chamando seu nome e você não vê ninguém. Um pesadelo extremamente assustador. Um impulso maligno para fazer algo contrário a sua consciência. Muitas vezes uma voz, como se houvesse outra pessoa discutindo em sua mente com você, te tentando para fazer algo proibido. Cada um fazendo uma retrospectiva da sua vida perceberá que em alguns momentos uma presença maligna o cercou. Não tem como evitar isso. Aliás, quanto mais a pessoa se volta para Deus, mais chances ela terá de sentir o Mal lhe rondando, lhe cercando e espreitando sua vida, porque o Diabo não quer ninguém bem.