segunda-feira, 3 de maio de 2010

OS FIGURANTES DA HISTÓRIA

SERGIO BUARQUE DE HOLANDA, notadamente foi um intelectual como seu colega Florestan Fernandes, ainda que não compartilho a visão do mundo deles pela perspectiva marxista de esquerda, revolucionária e estes conceitos norteiam toda a direção da visão histórica de um observador. Não podemos deixar de vê com o “olho esquerdo”, afinal a visão humana é a junção da imagem que chega pelo olho esquerdo e direito e na mente se forma uma só imagem.
Assim acredito que temos que ter a preocupação de olhar a sociedade e a história do ponto de vista dos que mandam, dos poderosos, dos sábios, dos sacerdotes, bem como devemos olhar com o olho de quem não mandou em ninguém, de quem não pode escrever nada, de quem não tinha contato com Deus e por isso não tinha regras para os homens, de quem mal podia sustentar o seu próprio peso...
ADONIRAN BARBOSA, em sua música SAUDOSA MALOCA vêm neste mesmo viés mostra a história vista pelo “OLHO ESQUERDO”, do pobre morador de rua que ao ter destruído sua maloca onde morava sentido a ruína do seu palácio. A sociedade, por outro lado, apenas interessava o deslumbrante arranha-céu que agora foi construido onde antes havia um terreno com uma maloca.
CHICO BUARQUE – Na música CONSTRUÇÃO, o filho de Sergio Buarque parece ter herdado do pai o dom de ver a história através dos figurantes mudos e em forma de canção fala da dura vida de um pedreiro que morreu na construção civil. O poeta faz troca de palavras nas estrofes, talvez mostrando que a vida de um pedreiro não tem valor para a sociedade. Quem ao comprar um apartamento se importa se morreu algum operário ali? Quer saber do resultado final dos detalhes e do acabamento da obra. Não se houve custos de vidas.




CONCLUSÃO
Reflexão, muitas vezes temos que parar de pensar como todos pensam e sentir como todos sentem, talvez não fazemos isso por medo de nos emocionar com a dor alheia. Em meu trabalho de escrivão de polícia já vi centenas de laudos necroscópicos, fotos de mortos e até amigos na geladeira do IML, mas um dia parei e fiquei olhando a foto de um pobre ambulante que morreu atropelado na rodovia, ao final do dia, ao lado da sua bicicleta cargueira com limões que vendia. Pensei na dura existência daquela vida que terminou com seu sofrido corpo com fraturas expostas e abandonado no acostamento e chorei. Quase milagrosamente chorei por um desconhecido..